Relatos de mulheres apontam condutas abusivas durante partos humanizados realizados por médica de São Paulo
Relatos de violência obstétrica envolvendo uma médica obstetra que também atua como influenciadora digital nas redes sociais vieram à tona após reportagem exibida no Fantástico neste domingo (20/4). Pacientes denunciam condutas abusivas durante partos humanizados, que teriam resultado em traumas físicos e emocionais — e, em um dos casos, na morte de um bebê.
A profissional investigada pela Polícia Civil de São Paulo é Anna Beatriz Herief, conhecida como Bia Herief nas redes sociais. Ela acumula mais de 250 mil seguidores, com quem compartilha conteúdo sobre gestação e parto humanizado. No entanto, os relatos revelam um contraste entre a imagem cultivada on-line e as práticas denunciadas por ex-pacientes. Além de desencorajar cesáreas, a doutora cobra cerca de 20 mil reais para realizar o parto.
A paciente Larissa foi diagnosticada com pré-eclâmpsia, um tipo de hipertensão gestacional. A gravidez de alto risco tomou ainda contornos mais dramáticos porque o bebê também foi afetado pela doença. O trabalho de parto durou 12 horas, sem apresentar progresso nas últimas seis. Anna Beatriz decidiu usar um aparelho para puxar o bebê, o vácuo-extrator. O prontuário do parto de Larissa mostra que a médica tentou a manobra por sete vezes. Mesmo o manual do aparelho e a literatura médica recomendarem no máximo três.
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“Ele nasceu morto, eu percebi que alguma coisa tinha dado terrivelmente errado, porque eu vi as médicas gritando pedindo adrenalina, iniciar uma manobra para ressuscitar ele”, conta Larissa. O bebê foi reanimado, mas após o trauma do nascimento, ainda não é possível mensurar as possíveis sequelas em Louie, nome escolhido por Larissa.
Bianca também tinha hipertensão e confiou na médica influencer. “Com 35 semanas, ela me mandou uma mensagem pelo WhatsApp no meio da tarde dizendo: ‘eu tô afim de induzir seu parto hoje’”, recorda Bianca. Ao dar entrada no hospital, Bianca recebeu a informação de que deveria passar pela UTI. Ela conta que, nesse momento, foi orientada pela médica a mentir, para que não fosse encaminhada para a UTI.
Bianca relata que entrou na maternidade como uma paciente normal. Mas, durante o trabalho de parto, a equipe não conseguiu mais ouvir o coração do bebê. “Custou a vida do meu filho”.
Outras pacientes relataram episódios semelhantes: insistência no parto normal mesmo em situações clínicas delicadas, uso de manobras dolorosas sem consentimento e falta de acolhimento durante o trabalho de parto.
As denúncias foram formalizadas junto ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que confirmou estar analisando os casos. A Polícia Civil também conduz uma investigação e já ouviu algumas das mulheres que relataram abusos. A médica deve ser chamada a depor nos próximos dias.
O que diz a médica
Procurada, a médica negou todas as acusações. Em nota, afirmou que “sempre agiu com ética e responsabilidade” e que confia na apuração justa por parte dos órgãos competentes.