O manejo sustentável do pirarucu é um dos pilares da conservação da biodiversidade e da economia das comunidades ribeirinhas da Amazônia. Nos últimos anos, 2023 e 2024, as secas severas que afetaram o Amazonas trouxeram desafios inesperados para essas comunidades, impactando o acesso aos lagos e dificultando a pesca. No entanto, esses desafios também têm gerado novas oportunidades e fortalecido a resiliência das populações locais.
As comunidades ribeirinhas, que tradicionalmente dependem do pirarucu para sua subsistência, enfrentaram sérios desafios devido à escassez de água e ao acesso dificultado aos lagos de pesca. Manejadores como Antônia da Silva Fernandes e Dalvino Gomes da Silva, da Comunidade São Francisco da Mangueira, no município de Juruá (a 719 quilômetros de Manaus) continuam trabalhando com determinação para superar os obstáculos trazidos pelas secas.
“A seca dificultou muito a nossa pesca porque os lagos estão cobertos de capim, e fica muito difícil pescar. Quando enche o rio, que dá água, os lagos ficam limpos e bons para pesca”, relata Antônia da Silva Fernandes.
Dalvino Gomes da Silva, também da mesma comunidade, compartilha sua perspectiva sobre os desafios enfrentados durante o período de seca. “Afetou de forma que a minha comunidade não pescou por falta de água. Os varadouros estão muito longe, e a gente ainda não tem jerico (pequena embarcação), e o único igarapé de acesso está seco”, explica Dalvino.
Esses desafios têm motivado a busca por soluções. A FAS tem apoiado diretamente centenas de manejadores e suas comunidades com projetos como a Cadeia Produtiva do Pirarucu Manejado, projeto em parceria com o Bradesco, que foca no fortalecimento da infraestrutura produtiva e nas práticas de manejo legal.
Apesar dessas dificuldades, as feiras do pirarucu, organizadas pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), têm sido fundamentais para melhorar a comercialização e gerar uma renda mais justa para as famílias que dependem da pesca. Essas feiras representam uma oportunidade importante para o escoamento do pescado, divulgação dos benefícios do manejo sustentável, beneficiando tanto os pescadores quanto a economia local.
Investimentos no Manejo Sustentável
O manejo sustentável do pirarucu não é apenas uma fonte de renda, mas também uma maneira de garantir a preservação da Amazônia e seus recursos naturais. As práticas de manejo legal ajudam a equilibrar a pesca do pirarucu com a proteção ambiental, garantindo que a despesca não comprometa a biodiversidade local.
Entretanto, os efeitos das mudanças climáticas, que têm intensificado tanto as secas quanto as enchentes, exigem a implementação de novas estratégias e políticas públicas, como sugere Antonia.
“Essas mudanças climáticas dificultam muito, e a gente, tendo meios de chegar até os nossos lagos, principalmente aqui atrás da comunidade, que é bem distante, se beneficiaria bastante. Uma estrada adequada para chegar até o lago e transporte para levar o peixe e o material ajudariam muito”, opina, destacando a importância de melhorias na infraestrutura para garantir o acesso aos locais de pesca.
Caminhos para o futuro sustentável
Edvaldo Corrêa, gerente do Programa Prosperidade na Floresta da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), destaca que os manejadores estão enfrentando um cenário desafiador e o apoio à infraestrutura e a adaptação às mudanças climáticas são fundamentais para garantir a continuidade das atividades de pesca sustentável. Ele explica: “A seca impacta diretamente o planejamento na realização das feiras. Geralmente fazemos seis feiras durante a pesca do pirarucu. Com a seca extrema, a quantidade de feiras diminui pela metade (50%)”.
Além disso, Edvaldo observa que, apesar das dificuldades, é possível se adaptar a este cenário com o apoio contínuo à infraestrutura necessária para o manejo. “Com a realização de seis feiras, eles chegam a faturar em torno de R$ 360 mil”, enfatiza, refletindo sobre a importância de soluções que otimizem o acesso à pesca e ao mercado.
Embora os desafios climáticos estejam longe de desaparecer, a adaptação das comunidades e o apoio contínuo a práticas sustentáveis demonstram um caminho positivo para o futuro do manejo do pirarucu. A colaboração entre as comunidades, as organizações ambientais e os governos é essencial para implementar soluções que atendam às necessidades dos manejadores e, ao mesmo tempo, promovam a conservação dos recursos naturais da Amazônia.
Com o fortalecimento da infraestrutura e o apoio contínuo de iniciativas como os projetos da FAS, as comunidades ribeirinhas podem continuar a enfrentar as adversidades climáticas com resiliência e inovação, garantindo que a pesca sustentável do pirarucu se mantenha uma fonte de sustento e conservação para as gerações futuras.
“As políticas públicas que temos hoje são o seguro-defeso e as subvenções federais e estaduais, mas nem todos conseguem acessar. Como os manejadores fazem um trabalho de serviço ambiental nas áreas de manejo, deveria-se pensar em políticas que incluíssem uma remuneração direta para este público e também em alternativas de transporte para fazer a retirada do pirarucu dos lagos até o Solimões, ou seja, uma logística mais robusta”, sugere Edvaldo.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.
Créditos de imagem: Rodolfo Pongelupe