Em 9 de agosto de 1999, Vladimir Putin chegava ao poder em Moscou. E não há nenhum fim à vista para seu regime
Quando a então chanceler federal alemã Angela Merkel encerrou sua carreira política, há três anos, pediram-me para entrevistar o líder russo, Vladimir Putin, para um documentário em Moscou. No mesmo programa, também seriam entrevistados outros chefes de Estado e de governo com quem Merkel tinha trabalhado durante a sua carreira. Uma espécie de retrospectiva sobre a chefe de governo alemã.
Mas o Kremlin recusou. Na ocasião, a razão apresentada foi o fato de que todos os outros entrevistados eram ex-chefes de Estado, enquanto o presidente russo ainda estava no cargo. Isso não era digno do chefe do Kremlin, justificou o governo russo. Tive que me contentar em entrevistar o ex-presidente Dmitry Medvedev, que durante um mandato inteiro, entre 2008 e 2012, fora uma espécie de chefe de Estado interino. Isso se deu por razões constitucionais, já que Putin não pôde se candidatar novamente à Presidência e, em vez disso, seguiu no comando do Kremlin através dos bastidores na figura de primeiro-ministro.
Medvedev nunca foi o número um da Rússia. Tal posto pertence unicamente a Vladimir Putin há 25 anos, mais precisamente desde 9 de agosto de 1999, quando foi nomeado primeiro-ministro russo pelo então chefe de Estado Boris Yeltsin . Políticos ocidentais – incluindo a chanceler Ângela Merkel, que ficou 16 anos no poder – vêm e vão. Mas Putin fica.
A “mais forte ditadura personalizada” do mundo
Nestes 25 anos, o presidente russo transformou o seu país na “mais forte ditadura personalizada do mundo”, avalia o cientista político russo Mikhail Komin. “A Rússia não é, obviamente, uma Coreia do Norte; o país é grande demais para isso. Mas cada vez mais cidadãos são colocados na linha da mesma forma”, continua Komin, acrescentando que o Estado exige cada vez mais lealdade a esses cidadãos.
Para o especialista, isto foi possível porque Putin tem enfraquecido consistentemente todas as instituições políticas da Rússia ao longo do quarto de século em que está no poder. Desde o início, diz Komin, o objetivo de Putin foi reestruturar a democracia a seu favor: “Hoje, todo o poder no Estado russo está concentrado nas mãos de uma única pessoa – nas mãos de Putin”.

Controle de regiões como pedra angular de poder
Tudo começou com a eliminação da “autonomia regional”, lembra Komin. “Uma das reformas políticas mais importantes do primeiro mandato de Putin foi o estabelecimento dos chamados representantes presidenciais nas regiões”, responsáveis pela política regional. Foi assim que o Kremlin criou seu próprio instrumento de controle nas regiões, uma pedra fundamental para consolidar seu poder, avalia o politólogo. “A influência do Kremlin foi legitimada não apenas sobre os governadores, mas também sobre aqueles que os cercavam, incluindo os grandes empresários locais”.
Essa opinião é compartilhada pelo cientista político russo Grigori Nishnikov, radicado na Finlândia. “Se pensarmos na Rússia dos primeiros anos de Putin, o que nos vem à mente são vários centros autônomos de poder, tanto constitucionais quanto informais, como os oligarcas. Todos eles formavam uma espécie de contrapeso ao Kremlin”. Putin destruiu tudo isso, centralizou tudo e alinhou o sistema de poder da Rússia em torno dele mesmo, disse Nizhnikov em entrevista à DW.
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Com informações DW