Durante coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (29), o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, afirmou que será apurado se moradores dos complexos do Alemão e da Penha retiraram roupas camufladas de parte dos mortos durante a megaoperação policial.
Segundo o secretário, um inquérito será instaurado para investigar uma possível fraude processual cometida por populares que retiraram os corpos da mata e os colocaram enfileirados em via pública logo nas primeiras horas da manhã.
“Parece que houve uma mágica com esses corpos que estão aparecendo hoje, desses narcoterroristas. Eles estavam na mata — temos imagens deles todos paramentados, com roupas camufladas, coletes balísticos e portando armas de guerra. Aí, apareceram vários deles só de cueca, de shorts, descalços, sem nada. Ou seja, um milagre se operou. Parece que entraram em um portal e trocaram de roupa”
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Segundo secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, um inquérito será instaurado para investigar uma possível fraude processual cometida por populares.
Mauro Pimentel / AFP.
Imagens mostram retirada de roupas de corpos na mata
De acordo com as imagens obtidas pela polícia, é possível ver pessoas utilizando tesouras para cortar uniformes camuflados dos cadáveres encontrados na mata que liga o Complexo do Alemão ao Complexo da Penha.
Os corpos tiveram suas vestimentas, cintos, pochetes e demais acessórios retirados antes de serem colocados nas ruas.
Ao amanhecer, os cadáveres estavam cobertos com lençóis, mas, horas depois, foi possível observar que boa parte deles estava sem roupa, vestindo apenas trajes íntimos.
Os investigadores agora buscam identificar as pessoas registradas nas imagens, que já foram anexadas a um boletim de ocorrência aberto às 8h32 na 22ª Delegacia de Polícia, na Penha.
Moradores afirmaram que cortaram partes das roupas para facilitar o reconhecimento dos corpos pelas famílias. Parentes também teriam solicitado que os registros fossem feitos sem vestimentas, para que as lesões ficassem visíveis.
Durante a operação, no Hospital Getúlio Vargas, parte dos feridos chegou à unidade vestindo roupas camufladas, semelhantes a folhas de vegetação.
121 mortos e 113 presos
Segundo balanço oficial do Governo do Rio de Janeiro
De acordo com o balanço divulgado pelo governo estadual, o número de mortos subiu para 121, sendo quatro policiais. Outros 117 mortos eram suspeitos de envolvimento com o tráfico, segundo a Secretaria de Segurança. Entre os presos, há 113 pessoas, incluindo 33 oriundas de outros estados e 10 menores de idade.
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A Operação Contenção já é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. Segundo as forças de segurança, o número de mortos deve aumentar.
Pablo Porciúncula / AFP.
Cerco na mata foi planejado para evitar fuga de criminosos
O cerco na área de mata que liga o Alemão ao Complexo da Penha foi planejado com antecedência pela polícia.
Segundo o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, a decisão foi tomada para evitar a fuga em massa dos criminosos, como ocorreu em 2010, durante a ocupação da Vila Cruzeiro.
Na ocasião, imagens aéreas mostraram traficantes fugindo pela mata em direção ao Alemão. Desta vez, equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram posicionadas estrategicamente para conter o avanço.
“Distribuímos as tropas pelo terreno. O diferencial, em relação às imagens de 2010, foi a incursão dos agentes do Bope na parte mais alta da montanha que separa as duas comunidades. Essa ação criou o que chamamos de ‘muro do Bope’ — uma linha de contenção formada por policiais que empurravam os criminosos para o topo da montanha”, explicou Menezes.
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Segundo o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, a operação foi organizada nos últimos 60 dias, com reuniões diárias. Cerca de 180 mandados foram expedidos pela Justiça.
Mauro Pimentel / AFP.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que levar o confronto para a área de mata foi uma estratégia para preservar vidas inocentes, ainda que reconhecesse a alta letalidade da operação.
“Optamos por deslocar o contato com os criminosos para a área de mata, onde eles efetivamente se escondem e atacam os policiais. A opção foi feita para preservar a vida dos moradores. Tivemos um dano colateral pequeno — quatro pessoas inocentes feridas, sem gravidade”, declarou Santos.
O secretário também reiterou o discurso do governador Cláudio Castro (PL), afirmando que as únicas vítimas civis fatais foram os policiais mortos durante a operação.








